quinta-feira, 24 de março de 2011

Crítica de Bruna Surfistinha

                                        Bruna Surfistinha - Direção de Marcus Baldini

Não tinha assistido porque não me exibiram o filme antes e a estreia coincidiu com o Oscar. Diante do sucesso de bilheteria do filme, fui deixando o tempo passar até mesmo para ter uma visão imparcial, já que eu trabalhei durante bastante tempo numa adaptação teatral do mesmo texto que deu origem ao filme (embora fosse fazer uma comédia).
O projeto não saiu porque não foi possível o produtor levantar dinheiro e financiamento, a mesma razão que dificultou a realização do filme (já que muitas empresas não quiseram ligar o nome à história de uma prostituta), o que demonstra que nada mudou, ainda continuamos hipócritas como sempre. Para ver o filme e torná-lo um êxito, não há problemas... Mas permitir sua existência, ainda que num produto de qualidade, não se podia permitir...
Enfim, não há dúvida de que a história da Bruna foi um fenômeno nacional (a verdadeira biografada, Raquel Pacheco, faz uma rápida aparição como a garçonete que mostra a mesa para Bruna e Hudson no restaurante). Ela foi das primeiras no mundo a usar um Blog para contar suas aventuras eróticas e dar notas as performances dos clientes.
Considerando tudo que podia dar errado e a baixaria em que o filme poderia facilmente cair, visto a falta de experiência do cinema brasileiro em tocar assuntos polêmicos com dignidade, o filme da Bruna merece os elogios que tem recebido. Ainda mais feito por um diretor estreante e jovem como Marcus Baldini  (que conheço apenas de vista, dos tempos da MTV).
Não sei bem por que dispensaram a moça que foi escolhida originalmente, Karen Junqueira, mas não há dúvida que foi uma decisão acertada chamar Deborah Secco. Ela não tem apenas a presença estrelar que ajuda o filme, mas também fez um belo trabalho, matizado, controlado, mostrando as mudanças e evoluções da personagem, de menina de escola a viciada em drogas.


É verdade que o filme ficou no fio da navalha, alguns segundos a mais teria caído na vulgaridade desnecessária (ainda implico com aquela cuspida na pia, que podia ter sido mais discreta). Se  bem que neste país nada é muito levado a sério. Deborah se arriscou e se deu bem. Não se comprometeu e fez um bom trabalho.
Era um personagem muito difícil até porque sua conduta não é muito justificada (fica numa história de querer viver sozinha, se sustentar, mas não tem as cenas de sofrimento, ou mesmo confronto. De qualquer forma, é moda no cinema moderno não se explicar muito). Havia o risco do filme se transformar numa propaganda de recrutamento de mulheres da vida, de meninas bobinhas que desejariam imitar a heroína.
Não acredito que aconteça isso, acho muito mais perigoso um filme como Uma Linda Mulher de Julia Roberts, que é um conto de fadas sem qualquer realidade, e que esse sim faz pensar que basta virar prostituta para encontrar o Richard Gere para te tirar da vida! E era um filme da Disney!
Gosto especialmente do elenco feminino (de todas que fazem as colegas), do sempre certo Cássio Gabus Mendes, e de todos os inúmeros coadjuvantes e mesmo figurantes que compõem o filme (eu impliquei apenas com o garoto que faz o irmão e que vem bater nela, mas já é ser chato). Como sei bem, o livro e seus posteriores (que dão conselhos e narram casos) têm momentos muito mais fortes e polêmicos, que fizeram bem em deixar fora.


Não acho que o roteiro tenha conseguido fugir muito do esquema do gênero “filme de prostituição”, que é quase tão velho quanto o cinema, nem se pode dizer que tenha momentos de exuberante talento. Mas sem dúvida era um terreno escorregadio e arriscado que foi contornado com eficiência.


Fonte: http://noticias.r7.com/blogs/rubens-ewald-filho/2011/03/22/critica-de-bruna-surfistinha/

Nenhum comentário: